Lágrima ácida, que na verdade não é acida!
- Amici Allegri
- 18 de jun.
- 5 min de leitura
Com esse post queremos ajudar as famílias em relação a “lágrima ácida” que na verdade não tem nada de ácida como veremos a seguir. Vamos trazer informações científicas e também nossa experiencia pratica no assunto.
Vamos começar pelo nome correto: lágrima ácida é cromodacriorreia.
Abaixo você irá encontrar muitas informações bacanas no assunto, para entender melhor o que é, como é... mas, para quem tem pressa, já vamos adiantar algumas dicas importantes:
1) Aqui, o único produto que realmente notamos diferença é o Lavizoo. Infelizmente não somos patrocinados, então a dica da utilização do produto não tem qualquer viés a não ser ajudar. Vamos falar mais sobre esse produto no decorrer da postagem.
2) Atenção para as características. É comum confundir lágrima ácida com umidade. A umidade pode acontecer por alguma causa alimentar, hormonal (principalmente cio ou gestação), clima, tempo, poeira...
3) É indicado massagear o canto dos olhos, o que evita o entupimento na ponta lacrimal. Faça movimentos circuladores, e depois conduza suavemente para as laterais, como se fosse uma drenagem
4) Observe os cílios e os pelinhos do rosto, pode ser que alguma coisa esteja “fora do lugar”.
Importante explicar: cromodacriorreia não deve ser considerada lágrima do cachorro. Cachorros choram por sentirem dor, carência ou quando sentem falta de algo ou de alguém. Os possíveis motivos pelos quais as lágrimas saem dos olhos dos cachorros são: epífora (obstrução do ducto lacrimal), excesso de pelos na região, pálpebras mal posicionadas, excesso de produção de lágrimas, alteração na anatomia do canal lacrimal e alimentação.
Essas anormalidades nas pálpebras e cílios causam irritação e predispõem a inflamações e infecções que aumentam o lacrimejamento e consequentemente a quantidade de porfirinas presente na lágrima. Quando o canal lacrimal entope a lágrima não consegue descer para a boca (onde é deglutida) e acaba escorrendo pela face, onde reage com o oxigênio e/ou com a microbiota local (a população de bactérias que ali habita). Por isso, a massagem, a drenagem que falamos acima ajuda em alguns casos. Com a massagem “ajudamos” a lágrima a percorrer o caminho correto.
Apesar de popularmente ser conhecida como lágrima ácida, é importante dizer que essa alteração não possui relação com o PH da lágrima, ou seja, ela não é ácida já que permanece alcalina na maioria dos casos, com pH em torno de 6 a 7,5.
Entre as raças mais propensas estão: poodle, maltês, bulldog inglês, spitz alemão, lhasa apso, e shih tzu. As raças braquicefálicas, isto é, as de focinho curto, também costumam sofrer mais com este problema, por uma questão anatômica, já que apresenta os ductos nasolacrimais mais tortuosos, o que pode causar uma obstrução e, por consequência, a lágrima ácida.
Encontramos um estudo realizado na USP (GUSSONI e BARROS, 2003) muitoooo legal. Ele não foi realizado na raça Spitz Alemão, mas sim em Poodles, em 65 deles, onde foi possível aferir o pH da secreção lacrimal deles, sendo 35 cães com manchas por lágrimas e 30 sem manchas.
Os pesquisadores da USP verificaram que a maioria dos Poodles apresentou valores de pH lacrimal entre 5 e 6 – isso para os que tinham manchas e para o que não tinham também, derrubando a hipótese de que a acidez seria a responsável pelas manchas.
“.. Verificou-se que a presença da mancha colorida junto à região nasal independeu do pH da lágrima do cão, contrapondo-se à hipótese de que a alteração na coloração na região nasal seria causada pelo pH ácido da lágrima dos cães. Segundo Roberts e Erickson (1962 apud GUM3 , 1991, p. 125), a lágrima é uma solução levemente alcalina com uma média de pH 7,5. Resultados diferentes foram aqui encontrados, nos quais a maioria dos animais apresentou valores de pH entre 5 e 6...”
Ainda sobre o estudo, importante a observação sobre a questão da alimentação. Ela não determina o PH da lágrima, mas foi um fator em comum em cães que apresentavam a mancha.
..” Segundo a alimentação ingerida, pode-se observar que 38 animais (58,46%) ganhavam ração e alimento caseiro, 21 (32,31%) recebiam somente ração e 6 (9,23%) ganhavam somente alimento caseiro. Dos animais que eram alimentados com a mistura de ração e alimento caseiro, 16 (42,10%) apresentavam mancha; dos alimentados apenas com ração, 13 (61,90%) apresentavam mancha e 6 (100,00%) dos animais alimentados só com alimento caseiro apresentavam mancha.
Sendo assim observou-se que a presença de mancha colorida junto à região nasal dependeu do tipo de alimentação.
A lágrima com pH = 6 foi a de maior ocorrência tanto nos animais que comiam só ração ou só alimento caseiro, quanto nos que comiam uma mistura de ração e alimento caseiro. Dos animais que apresentavam lágrima com pH = 6, 24 (63,16%) eram alimentados com uma mistura de ração e alimento caseiro. Ao se estudar o pH e sua relação com o tipo de alimentação, observou-se que o pH da lágrima do cão independeu do tipo de alimentação quando aplicado o teste.
A mancha colorida junto à região nasal dependeu do tipo de alimentação. Mas, com o teste estatístico aplicado, não foi possível determinar o componente da alimentação envolvido. No presente trabalho observou-se que o pH da lágrima do cão independeu do tipo de alimentação, embora 63,16% dos animais com pH 6, pH de maior ocorrência na amostra, fossem alimentados com uma mistura de ração e alimento caseiro. Não foram encontrados dados na literatura a respeito de uma possível relação entre o pH da lágrima do cão e a alimentação.
Em relação a medicação e a idade, também não foi encontrado relevância na pesquisa, conforme abaixo:
“... No que se refere à medicação sistêmica, observou-se que, dos 35 animais que apresentavam mancha, 30 (85,71%) não usavam nenhum tipo de medicação e 5 (14,29%) usavam algum tipo de medicação, porém sem apresentar diferença significativa.
Em relação à idade, observou se maior ocorrência da mancha colorida junto à região nasal em animais com até cinco anos, havendo uma distribuição, aparentemente, uniforme. Segundo a presença de mancha colorida junto à região nasal independeu da idade...”
No estudo, não houve relação entre medicamentos e o pH da lágrima. Embora a maior ocorrência da mancha tenha ocorrido nos animais da amostra com idade até cinco anos, não houve influência estatisticamente significante com relação à idade, embora pudesse ser esperado que em animais mais idosos houvesse maior ocorrência da mancha junto à região nasal das pálpebras.
No que tange ao sexo, observou-se não haver dependência com a existência de mancha, a despeito da baixa predominância entre as obtidos neste trabalho.
O que determina o aparecimento dessas manchas, afinal?
Pasmem: não foi descoberto e pelo visto ninguém sabe exatamente.
Mas há evidências de que esteja relacionado com a alimentação, como o próprio estudo relatado acima verificou. Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que: 1. o pH ácido não foi responsável pela mancha colorida junto à região nasal; 2. a mancha colorida junto à região nasal esteve relacionada com o tipo de alimentação.
A lágrima dos pets tem porfirinas, compostos que contêm ferro resultante da quebra dos glóbulos vermelhos do sangue. A produção e a secreção de porfirinas tem influência genética, ambiental, alimentar e podem ser decorrentes de algum problema de saúde.
E é possível acabar com a lágrima ácida? Sim, como falamos no começo desta postagem, temos o Lavizoo e a massagem ao redor dos olhos, mas isso é orientado caso o pet não tenha nenhum problema físico. A limpeza dos olhos é essencial, mas é importante manter a região sempre seca. Por isso, lave diariamente.
Uma questão importante também, verifique a composição do produto e dispense-o se contiver tilosina, um antimicrobiano comumente indicado para controlar essas manchas. O uso indiscriminado de antibióticos gera resistência e cria superbactérias.
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